1 de Maio de 2008 - Profissão solene da Ir. Paula
Cânt 2,8-14; Fil 3,8-14; Mt 11, 25-30
Mosteiro de Huambo, Angola

 

HOMILIA

 

            O Evangelho que acabamos de ler contem alguns pontos de contacto com o Magnificat da Virgem Maria, que são muito interessantes e extremamente reveladores.

            Em primeiro lugar, Jesus dá glória à seu Pai por ter revelado aos “pequenos” o que tem escondido aos inteligentes e aos sábios. Depois  convida cada um a tomar o seu jugo sobre os próprios ombros e a tornar-se seu discípulo porque, ele diz, “Eu sou manso e humilde de coração”.

            Os pequenos, os humildes, têm um lugar muito especial no Evangelho. O Pai tem por eles um amor preferencial. Maria é uma dentre eles e o proclama ao início do Magnificat: “A minha alma glorifica o Senhor... porque ele pôs os olhos na humildade da sua serva”. A palavra grega utilizada aqui foi traduzida de maneira diferente nas diversas traduções da Bíblia: humildade, pequenez, condição humilde. Ora, é o adjectivo correspondente que Jesus utiliza no Evangelho de hoje quando diz que ele é manso e “humilde” de coração. E é ainda a mesma palavra que Maria utiliza mais a frente no Magnificat, quando diz  que o Senhor derrubou os potentes dos tronos e exaltou os “pequenos”, os humildes.

            Quando Jesus dá glória a seu Pai por ter revelado aos pequenos as coisas escondidas aos sábios, os pequenos dos quais  fala são os seus discípulos.. E estes não eram crianças pequenas, eram homens adultos que conheciam a maneira de actuar do mundo: Mateus, o cobrador de impostos, sabia como ganhar dinheiro; Judas, o Zelota, conhecia a arte da guerrilha; Pedro, Tiago e João eram pescadores que sabiam conduzir o seu barco no lago e deitar as redes. Eles tinham abandonado tudo para tornar-se discípulos de Jesus, e quando os convida - e nos convida - à simplicidade de coração, ele não nos convida à uma atitude infantil ou à um tipo infantil  de espiritualidade. Nos convida à uma forma muito exigente de pobreza do coração. Nos convida à segui-lo como discípulos e, por isso, a abandonar  todas as nossas fontes de segurança, especialmente a nossa sede de poder, da mesma forma que os seus discípulos tinham abandonado tudo para segui-lo.

           A grande característica do menino é precisamente a sua impotência. O menino pode ser, à sua maneira, tanto inteligente, amante, etc. que um adulto. Mas porque ele ainda não acumulou conhecimentos, propriedades materiais e relações sociais, está desprovido de  poder. Desde que nos tornamos adultos, nós queremos exercer poder e controle: sobre as nossas próprias vidas, sobre as outras pessoas, sobre as coisas materiais, e as vezes mesmo sobre Deus. É a  isto que Jesus nos pede de renunciar quando nos pede de ser como pequenas crianças.

          São Paulo é um bom exemplo de uma pessoa muito grande que se tornou criança pequena. Ele abandonou muitas coisas e aceitou de deixar-se despojar de muitas coisas, porque nada tinha valor algum para ele perto da graça de conhecer à Cristo Jesus, seu Senhor, como ele nos diz no texto da carta aos Filipenses que acabamos de ler.

            Cara Irmã Paula, comprometendo-te definitivamente na vida monástica, tu queres fazer-te, como Maria, a humilde serva do Senhor, tornar-te sempre mais um destes “pequenos” aos quais o Pai de Jesus revela as coisas escondidas aos sábios e aos inteligentes. Esta profissão não é nem um ponto de partida, nem um ponto de chegada, mais bem é uma etapa importante num caminho que começou ao momento da tua entrada ao mosteiro e que não encontrará o seu comprimento se não no dia da tua entrada na felicidade eterna.

           Na realidade, este caminho não começou somente à tua entrada ao mosteiro. Ele tinha começado no momento em que pela primeira vez se estabeleceu entre ti e Jesus una relação de amor, como àquela descrita neste belo cântico de amor que é o Cântico dos Cânticos, do qual tu escolheste uma passagem como primeira leitura.

            Que este amor de Jesus, que te conduziu ao mosteiro, e depois à profissão definitiva, nunca perca nada da sua intensidade. Por isso, nunca pares de escutar a sua voz, esta voz que é tanto doce quanto o jugo que tu aceitas hoje fazendo a tua profissão solene. Poderás, então, tu também cantar um dia: “Bendito seja o Deus de Israel, porque olhou para a humildade da sua serva.”

              Se  em verdade é esta história de amor com Jesus que tu queres viver, no seio da tua Comunidade de S. Maria Nasoma Y’ Ombembwa, eu te convido agora a pronunciar os teus votos nas mãos da tua Priora.

         

Armand Veilleux





 

 

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