VI Domingo da Páscoa
Actos 8,5-8.14-17; 1 Pedro 3,15-18; João 14, 15-21
Mosteiro de Huambo, Angola

HOMILIA

            Este Evangelho, como aquele do domingo passado, faz parte do primeiro discurso da despedida de Jesus aos seus discípulos, durante a última Ceia. Os outros discursos de Jesus no Evangelho normalmente são dirigidos ao povo no seu conjunto, ao passo que aqueles da última Ceia são dirigidos à um pequeno grupo de discípulos que Jesus considera seus amigos. Nestes exprime o seu amor por eles, mas, em troca, pede também de ser amado.  Uma expressão do seu amor por eles foi aquela de dar-lhes os mandamentos da vida. De facto insiste: “Se me amardes, permanecereis fieis aos meus mandamentos”. E diz mesmo assim: “os meus mandamentos”. Não fala simplesmente do mandamento supremo do amor, mencionado no capítulo precedente do Evangelho de João. Fala de todos os mandamentos que exprimem e concretizam este mandamento do amor.

            Nós estabelecemos, talvez demasiado facilmente, uma oposição entre a lei e o amor. Para Jesus esta oposição não existe. A obediência aos mandamentos é uma expressão de amor e cria uma comunhão de amor entre nós, Ele mesmo e seu Pai. “Quem acolhe os meus mandamentos e os observa, este me ama. Quem me ama será amado por meu Pai e eu  ama-lo-ei e manifestar-me-ei a ele”.

            A inteira passagem fala, sob diferentes aspectos, do mistério da habitação em nós do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e também do nosso habitar neles. Esta “inabitação” realiza-se através da comunhão dos corações. Jesus o diz numa outra passagem: “Eu amo o Pai e faço tudo o que Ele me mandou”.

            Se consideramos que o facto de obedecer aos mandamentos de Deus ou a qualquer ordem, significa que estamos sob o controle de alguém ou de algo de externo a nós mesmos, provavelmente nos revoltaremos porque queremos proteger a nossa autonomia. Mas não é este o sentido da obediência à qual Jesus convida os seus discípulos. Para ele a obediência é um acto de amor. De facto, assim como pensar é uma actividade do espírito, querer é uma actividade do coração; por conseguinte, querer a mesma coisa de uma outra pessoa, o seja, ter a sua mesma vontade, o mesmo desejo, o mesmo seu projecto, é um acro de amor.

            É o sentido da vida em comum. Isto vale seja pela vida matrimonial, seja pela vida comum numa comunidade monástica. Quando fazemos a profissão como monges, escolhemos uma forma determinada de vida cristã. Esta forma de vida indica um tipo de espiritualidade, umas formas de oração como também uma organização concreta da vida quotidiana e o exercício de diversas responsabilidades no seio do  grupo. Tudo isto nos é explicado no curso dos primeiros anos da nossa vida no mosteiro. Quando, ao momento da profissão, nos pedem se é isto que nós queremos viver, e nós respondemos “sim”, fazemos um acto de amor. Decidimos de querer as mesmas coisas daqueles que fizeram esta mesma profissão antes de nós. E que formam já esta comunidade à qual nos agregamos. A partir deste momento, o nosso  respeito constante por esta forma de vida que nós escolhemos é uma continua comunhão de coração entre nós e os irmãos. Cada acto realizado no respeito por esta forma de vida - cada acto de obediência à Regra comum que escolhemos como Regra de vida - é um acto de amor. E como acreditamos que a Regra é a explicitação por nós dos mandamentos do Senhor - porque se não fosse assim a nossa profissão não teria um significado cristão - nós podemos contar sobre as palavras de Jesus que nos disse: “Meu Pai vos amará, eu amar-vos-ei e  Nós viremos a vós e faremos a nossa morada em vós” .

       Os Actos dos Apóstolos nos dão além disso algumas luz sobre a maneira com a qual os primeiros Cristãos compreenderam e viveram esta realidade. A viveram de maneira livre, e ao mesmo tempo criativa. Jesus lhes tinha prescrito de pregar a sua mensagem a todas as nações. Eles o fizeram em primeiro lugar em Jerusalém. E antes de todos aos Judeus; depois aos Hebreus da diáspora, em seguida aos Samaritanos que, pelos Hebreus eram considerados como heréticos e piores dos pagãos. O início desta pregação aos Samaritanos, que nos é relatado na primeira leitura de hoje, foi a iniciativa de um simples diácono, por nada mandado com esta  intenção, mas esta sua missão foi confirmada depois por Pedro.

        A obediência é uma comunhão dos corações, que não é porém pura passividade. Ela exige tanta criatividade em quem obedece, quanta  naquele que manda ou elabora a lei.


Armand Veilleux





 

 

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