Sábado da 5.a sem. de Páscoas
Actos 16:1 - 10; João 15:18 - 21
Mosteiro de Huambo, Angola.

 

HOMILIA

            As leituras da Eucaristia durante este tempo pascal são de uma riqueza excepcional.  Por um lado, no Evangelho, lemos as últimas recomendações de Jesus aos seus discípulos durante a última ceia que tomou com eles, como são-nos contadas por João; e por outro lado as leituras tiradas dos Actos dos Apóstolos traçam-nos um quadro muito vivo da Igreja primitiva, onde todo evolui com uma rapidez bastante excepcional.  Um dos aspectos desta evolução que encontro dos mais fascinantes é ver como todo o futuro da Igreja é ligado à história pessoal de algumas pessoas. (Será de resto assim ao longo de toda a história da Igreja). Ao longo de todas as considerações dos Actos, a figura central é evidentemente a de Paulo, mas encontro ainda mais fascinante, em certa medida, a figura de Barnabé, sem o qual Paulo talvez nunca teria sido conhecido.

            Barnabé foi um dos primeiros Judeus convertidos pelos Apóstolos ao dia seguinte da Ressurreição e um dos primeiros a fazer parte da primeira comunidade cristã de Jerusalém. Vendeu o campo que possuía e veio depositar o dinheiro aos pés dos Apóstolos (Actos 4,37). Após a conversão de Paulo, enquanto que os Judeus de Damasco queriam matá-lo e que todos à Jerusalém, onde  tinha-se refugiado, fugiam-no, é Barnabé que teve a intuição e a coragem de ir procurar Paulo e conduzi-lo aos Apóstolos.  Sem este gesto de Barnabé, Paulo talvez nunca teria sido conhecido. 

            Uma parte importante do ministério de Paulo é o período em que ele e Barnabé trabalharam em estreita colaboração.  Quando os Apóstolos entenderam falar das primeiras conversões em Antioquia, enviaram Barnabé ver o que era, e este, após uma primeira inspecção dos lugares, foi procurar Paulo, que tinha voltado à Tarsos.   Barnabé, que era um Levita, e Paulo, este antigo Fariseu, faziam uma equipa formidável.  São eles quem, na sequência das numerosas conversões de pagãos, provocaram o Concilio de Jerusalém.  Seguidamente voltaram a Antioquia.

            Finalmente houve um diferendo entre Paul e Barnabé a propósito de Marcos, que temos celebrado ontem, à que Paul, intransigente, não perdoava de te-lo abandonado quando estavam na Panfília e que Barnabé, mais conciliador, queria toma-lo outra vez com eles.  Separaram-se então, após uma muito viva disputa; a seguir  Paulo continuou o seu ministério com Silas e Barnabé fez o mesmo  com Marcos.  Depois disto  os Actos não falam mais de Marco, dado que são escritos por um admirador  e um discípulo de Paulo.

            Admiro sempre a forma como Deus, para realizar a sua obra, não só serve-se dos homens, mas mesmo dos seus limites e dos seus defeitos, como das suas qualidades.  Parece-me também que em geral não se toma-se suficientemente em conta do papel capital que jogou na Igreja primitiva Barnabé, com seu faro excepcional “de conhecedor de homens”.  Deve-se-lhe “ter salvo” não somente Paulo, mas também “Marcos”, que entregou-nos seguidamente a primeira versão dos Evangelhos.


Armand Veilleux





 

 

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